A suspensão da aliança do PL com Ciro Gomes (PSDB) no Ceará, decidida após o embate público entre Michelle Bolsonaro e os filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro, representou um revés político para o presidente nacional da legenda, Valdemar Costa Neto. A ruptura ocorreu justamente após Valdemar ter retirado três processos que movia contra Ciro desde 2022, quando o tucano o associou a desvios no DNIT e relembrou sua condenação no Mensalão. Cada ação pedia R$ 100 mil de indenização, gesto que o dirigente classificou como um movimento pragmático para construir uma frente contra o PT no estado.
A articulação, porém, ruiu após Michelle criticar publicamente a aproximação do PL com Ciro durante um evento no Ceará, o que desencadeou reações imediatas de Flávio, Carlos e Eduardo Bolsonaro. Os três acusaram a ex-primeira-dama de descumprir orientações do marido e interferir nas negociações locais. A crise foi levada a Jair Bolsonaro, que cumpre pena em Brasília, e a suspensão formal da aliança acabou sendo referendada após conversa entre ele e Flávio na Superintendência da Polícia Federal.
O atrito também reacendeu tensões antigas entre Valdemar e Ciro. Em 2022, durante a campanha presidencial, o então candidato do PDT afirmou em debate que o dirigente do PL teria usado o DNIT para desvio de recursos, citando sua condenação no Mensalão. Apesar das críticas, Valdemar afirmou neste ano que o episódio estava superado e que enxergava em Ciro uma das poucas alternativas viáveis para enfrentar o PT no Ceará, razão pela qual buscou reaproximação. A crise atual, no entanto, volta a colocar os dois em lados opostos.
A briga por protagonismo no núcleo bolsonarista, acentuada desde o início do cumprimento da pena do ex-presidente, tornou públicos os conflitos internos sobre quem lidera as articulações políticas em nome de Jair Bolsonaro. Ao criticar a aliança com Ciro, Michelle argumentou que não havia como se aproximar de um adversário que atacou duramente a família Bolsonaro. A exposição das divergências fragiliza o discurso de unidade no PL e impõe novos desafios às articulações para 2026, especialmente em estados onde alianças dependem do equilíbrio entre Valdemar, os filhos do ex-presidente e o grupo político da ex-primeira-dama.



