Os chamados devocionais, momentos de adoração cristã realizados fora das igrejas, estão se tornando cada vez mais comuns em escolas públicas e particulares no Brasil, mesmo naquelas sem vínculo religioso. Em pelo menos 19 estados, estudantes se reúnem durante os intervalos para realizar leituras bíblicas, cantar louvores e ouvir pregações, ampliando um fenômeno que já vinha ganhando força em livros, podcasts, vídeos e postagens nas redes sociais.
O crescimento dessa prática tem gerado debates entre especialistas, educadores e autoridades. O artigo 19 da Constituição brasileira estabelece que escolas públicas não podem promover ou apoiar cultos religiosos, salvo em casos de interesse público. Enquanto alguns juristas defendem que os devocionais ferem a laicidade do Estado, outros afirmam que, se realizados de maneira voluntária pelos alunos, não há ilegalidade.
A polêmica já chegou ao Ministério Público e ao Congresso Nacional. Um projeto de lei em tramitação busca garantir a realização de atos religiosos voluntários em escolas, incluindo os devocionais, e prevê multa para gestores que impedirem esses encontros. Parlamentares evangélicos têm defendido a proposta como uma forma de garantir a liberdade religiosa dos estudantes, enquanto críticos alertam para o risco de imposição religiosa em um ambiente que deve ser neutro.
A reportagem, apurada pelo UOL, ouviu mais de 15 especialistas, entre juristas, professores, influenciadores, pais e alunos, e as opiniões divergem. Alguns acreditam que os encontros podem ser positivos para fortalecer valores e proporcionar momentos de reflexão, desde que sejam espontâneos e respeitem a diversidade religiosa. Já outros apontam excessos, como casos em que professores e alunos sentem pressão para participar ou enfrentam dificuldades para recusar.