Com apenas sete meses no comando da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB) lida com turbulências que colocam sua liderança à prova. Apesar de eleito com apoio amplo e fama de articulador habilidoso, o parlamentar paraibano convive com a constante sombra de Arthur Lira (PP-AL), seu antecessor e padrinho político, que segue com influência decisiva nos bastidores do Congresso.
Foi no gabinete de Arthur Lira, vizinho ao de Motta, que se deu a costura política para conter a crise provocada pela ocupação bolsonarista nas mesas da Câmara e do Senado, em reação à prisão domiciliar de Jair Bolsonaro. O acordo inclui a promessa de votar dois temas amplamente debatidos: a anistia a envolvidos nos atos golpistas e a PEC da blindagem. Desde então, as cobranças para cumprir o acerto recaem sobre o atual presidente da Casa.
Motta tentou frear o ímpeto dos aliados de Lira ao adiar a votação da PEC, que daria ao Congresso poder para barrar investigações contra parlamentares. Já a anistia voltou à tona após visita recente de Lira a Bolsonaro, quando a pressão subiu com apoio do governador Tarcísio de Freitas. Embora Motta tenha resistido, admitiu a possibilidade de colocar o tema em pauta após o provável julgamento do ex-presidente.
A atuação do jovem presidente segue dividindo opiniões. Aliados apontam votações expressivas e condução de temas relevantes, como a reforma administrativa, como sinais de sua força, mas críticos enxergam em sua gestão um reflexo da continuidade da influência de Lira. Entre aproximações com o Planalto e recuos sob pressão, Hugo Motta ainda busca firmar sua autoridade definitiva à frente da Câmara.
Maceió, 9 de setembro de 2025
