A recente inclusão do nome do Ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, em uma lista de sanções sob a Lei Magnitsky Global, emitida por decreto do presidente norte-americano Donald Trump, gerou um verdadeiro terremoto político-jurídico no Brasil. A medida, inédita no contexto das relações entre os dois países, escancarou tensões institucionais internas e conflitos diplomáticos latentes com potências ocidentais.
Originalmente aprovada em 2012 e ampliada em 2016 nos EUA, a Lei Magnitsky autoriza o Poder Executivo norte-americano a aplicar sanções contra indivíduos estrangeiros envolvidos em graves violações de direitos humanos ou corrupção significativa. As sanções vão desde o congelamento de bens e contas em território americano até a proibição de entrada nos EUA.
Na prática, trata-se de um mecanismo geopolítico de pressão com base em valores democráticos. Nos últimos anos, países como Canadá, Reino Unido e União Europeia também adotaram legislações semelhantes.
Em junho de 2025, Trump — já em seu segundo mandato — assinou uma ordem executiva incluindo Alexandre de Moraes e dois outros altos funcionários brasileiros na lista de sanções, sob a justificativa de “ações sistemáticas contra liberdades civis e abuso de poder institucional”. A acusação faz referência a decisões do ministro no contexto de inquéritos sobre fake news, censura de perfis e prisões de opositores políticos no Brasil.
A reação interna foi imediata. Enquanto aliados do governo e setores da esquerda defenderam Moraes como um “guardião do Estado de Direito” frente à desinformação e tentativas golpistas, grupos liberais, juristas independentes e conservadores viram na sanção um sinal de alerta para excessos do Judiciário e concentração de poder monocrático.
Especialistas em direito internacional público apontam que a aplicação da Lei Magnitsky contra um ministro de Suprema Corte ativa um precedente delicado: a tensão entre soberania nacional e responsabilidade internacional por violações de direitos.
Tecnicamente, a sanção é unilateral e não gera efeito jurídico dentro do Brasil. No entanto, ela tem implicações simbólicas e materiais: bloqueio de ativos, restrição de mobilidade global e desgaste diplomático.
Além disso, acendeu um debate dentro do Itamaraty sobre retaliações diplomáticas, com a possibilidade de revisão de acordos bilaterais com os EUA ou de apelos formais em fóruns multilaterais.
A inclusão de nomes brasileiros na lista Magnitsky não começou com Moraes. Já haviam sido sancionados anteriormente agentes de segurança envolvidos em execuções extrajudiciais, figuras políticas associadas a grandes esquemas de corrupção, e empresários atuando em zonas de conflito fundiário e ambiental.
Contudo, o caso do ministro do STF eleva o debate a outro patamar. Pela primeira vez, um membro da cúpula do Judiciário brasileiro entra formalmente no radar de sanções internacionais, gerando implicações para a legitimidade das instituições perante o mundo.
A médio prazo, o Brasil enfrenta dois desafios simultâneos: lidar com a crescente judicialização da política interna, e ao mesmo tempo, reconstruir pontes diplomáticas com países que já demonstraram disposição em punir abusos institucionais por vias externas.
Mais do que uma crise momentânea, o episódio expõe uma questão estrutural: qual o limite do poder interno frente aos valores internacionais consagrados em tratados de direitos humanos? E, mais ainda: qual o custo de ignorar essas normas num mundo cada vez mais interconectado e vigilante?